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As ruas de Paris são charmosas para passeios a pé | besopha

Paris além do Óbvio, o melhor roteiro na capital francesa

Paris, a capital da França, é famosa como a cidade mais cara do mundo. Para turistas, talvez seja. Mas com algumas dicas simples, dá para fazer uma viagem barata por Paris e aproveitar tudo o que a cidade oferece: boa comida, shows e eventos culturais, transporte de qualidade…

A série Paris além do óbvio dá as dicas para descobrir a capital francesa sem destruir o bolso. Sim, descobrir: além dos programas e passeios óbvios, Paris além do óbvio é um mapa para ruazinhas charmosas e escondidas e outros segredos da Cidade-Luz. Passe em um supermercado em Paris e já compre uma água barata!

Leia também: Lugares e roteiros na Europa

Paris além do Óbvio

Estive em Paris pela terceira vez. E foi a melhor passagem por lá dentre todas elas. Foi a melhor não apenas pelos tempos que tive por lá (nove dias de estadia com sol suave e constante), mas pelos locais que conheci e passei.

Aliás, vi uma Paris bem diferente daquela cidade da Torre Eiffel, da Champs Élysée, do Louvre e das grandes avenidas. Vi uma Paris do cotidiano de um morador local, com bairros simpaticíssimos, vielas e calçadões fora dos guias, praças incrustadas que se parecem pequenas joias e muitos programas baratos ou gratuitos.

O charme da capital francesa

E essa Paris que eu sempre quis conhecer e que agora pretendo mostrar a você, leitor-viajante. Sabe aquela história de que “Paris é tudo caro”? É uma meia verdade. Como em todas grandes metrópoles do mundo, há coisas caras e coisas baratas. Basta saber onde ir.

Se ficarmos restritos aos locais, esquemas e restaurantes turísticos, vamos achar, de fato, tudo caro. Se nos movimentamos no ritmo e na geografia dos locais, vamos constatar que a capital da França oferece muitas opções para quem não pretende gastar muito.

Esqueça os passes para turistas, use o bilhete Navigo

Muitas vezes é bem difícil fugir dos esquemas profissionais montados para ajudar (leia-se “pegar”) turistas. Mesmo em seu próprio país, falando sua própria língua, não é fácil escapar. Por exemplo, pouquíssimas pessoas sabem que há um ônibus intermunicipal que liga o Aeroporto de Guarulhos ao metrô Itaquera.

Para sair do aeroporto, mesmo com pouca bagagem, somos impelidos a pagarmos (de trouxa) R$ 35,00 pelo busão Airport Service ou mais caro ainda pelo táxi. Esses macetes não estão facilmente disponíveis e ninguém vai contá-los a você. Cabe ao interessado ir atrás. Em Paris e em praticamente qualquer lugar, é exatamente a mesma coisa.

Economize no transporte público

As informações práticas e turísticas são onipresentes. Há uma infinidade de folders, placas, cartazes e sites multilíngues. Grande parte desse material é muito útil e extremamente confortável . E é assim que eles ganham dinheiro, facilitando em muito a vida dos turistas e cobrando caro por isso.

Viaje barato por Paris

Com o bilhete Navigo, o transporte em Paris fica bem barato

A França é o país que mais recebe turistas no mundo, cerca de 75 milhões por ano, e o setor é responsável por quase 7% do PIB francês, gerando algo em torno de 36 bilhões de euros por ano. Descobrimos que basta levar uma foto 3X4 e fazer, na hora, uma carteirinha Navigo (o bilhete único parisiense). Dá para fazer esse passe em praticamente qualquer estação de metrô.

Com essa carteirinha, você pode comprar passe livre (metrô, ônibus, bondes e trens urbanos) por um dia, uma semana, um mês, etc. Opte pelo passe por uma semana nas zonas 1 e 2 (acredite, você não vai em nenhum lugar nas demais zonas).

Se fôssemos comprar algum dos “passes turísticos” num dos muitos Office du Turisme de Paris, não teríamos a possibilidade de comprar por uma semana e pagaríamos € 57,75 por um bilhete válido por 5 dias em todas as 5 zonas, sendo que você não sairá das zonas 1 e 2. As opções de passes turísticos são todas obviamente mais caras do que as alternativas para os moradores.

Passeios em Paris

Aproveite as dicas para conhecer os cantinhos da capital francesa a pé e, no final da caminhada, tome uma cerveja sentado no chafariz da Place Contrescarpe.

Caminhe pela história de Paris

Desça na estação de metrô Censier – Daubenton (linha 7) (ponto A no mapa de Paris). Você está no 5o arrondissement, no lado esquerdo do Sena, chamado de Rive Gauche. Paris tem 20 arrondissements, que nada mais são do que 20 subdistritos administrativos.

Cada arrondissement possui sua própria subprefeitura, as maries. O 1o arrondisssement fica bem no centro da cidade e os demais vão se seguindo em sentido horário, formando um caracol.


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Enfim, voltando ao roteiro. Ande pela rua Monge e vire à esquerda na rua de l’Épée de Bois. Após alguns metros, entre à direita na rua Mouffetard (ponto B no mapa de Paris) – a primeira atração do roteiro. Essa é uma das ruas mais antigas e charmosas de Paris.

Há relatos arqueológicos indicando que ela fica na rota que era usada pelos romanos para sair de Lutécia (nome romano da cidade, antes dela se chamar Paris) e ir em direção à capital do império, Roma. A rua, que serviu de cenário e batiza uma das fotos mais emblemáticas do fotógrafo Cartier-Bresson, é repleta de bares charmosos, restaurantes aconchegantes e lojinhas descoladas.

Plats du jours

Rue Mouffetard, uma das fotos mais famosas de Cartier Bresson

Rue Mouffetard, um dos registros mais famosos do fotógrafo Cartier Bresson

Nas manhãs de terça a domingo, a Mouffetard abriga uma feira muito interessante e agradável. Durante a subida da rua, entre à esquerda para conhecer a rua Pot de Fer. É um calçadão com boas opções de restaurantes à la carte e variadas modalidades de plats du jours.

Continue subindo a Mouffetard em direção à Place Contrescarpe. No caminho, atente para a creperia Au P’tit Grec (número 66; ponto C no mapa de Paris), sempre com filas de parisienses pela qualidade e preços dos crepes.

Cinema alternativo e de arte

Sendo assim, se você gostar de cinema alternativo e de arte, dê uma olhada na programação do acanhado L’Epee de Bois (número 100).

E se for para tomar um copo (os franceses têm uma expressão semelhante, boir un verre, literalmente, beber um copo), conheça o Le Vieux Chêne (número 69) – um dos bares/tavernas mais antigos da região, que funciona desde 1.700 e lá vai pedrinha (é sério, o boteco funciona no mesmo local desde meados do século XVIII.)

Ao chegar na Place Contrescarpe, você vai estar no coração do chamado Quartier Latin(quarteirão latino; ponto D no mapa de Paris), uma área que fica entre o 5o e o 6o arrondissement, nos arredores dos prédios da universidade Sorbonne – daí o nome, pois antigamente as aulas na universidade eram em latim.

A praça é minúscula, mas belíssima, uma pequena pérola em meio a um emaranhado de ruas. Tome uns copos nos bares da redondeza ou faça como fazem muitos jovens locais, compre uma cerveja num dos mercadinhos árabes da rua Mouffetard e beba-a na praça, de preferência, sentado na mureta do chafariz.

Roteiro Geração Perdida

Depois das dicas práticas de transporte, comida, estadia para fazer uma viagem em Paris sem abrir mão de aproveitar tudo que a capital francesa oferece, Paris Além do Óbvio vai passear pela Cidade-Luz para mostrar os cenários e costumes que marcaram a Geração Perdida e foram registrados em filmes, fotos, livros, músicas…

Entre as duas grandes guerras, Paris foi o palco da festa de ícones da cultura mundial (foto: Marina Kuzuyabu)

A Geração Perdida

Paris é uma festa. A frase clichê-chiclete é o título de um livro do norte-americano Ernest Hemingway (1899-1961), editado postumamente em 1964.

O escritor morou em Paris no anos 20, na época entre as duas grandes guerras mundiais em que a cidade realmente era uma festa e abrigava pessoas como:  — Francis Scott Fitzgerald e sua mulher Zelda, Gertrude Stein, Pablo Picasso, Salvador Dalí, Man Ray, James Joyce, Cole Porter, Sidney Bechet, Ezra Pound, John dos Passos, William Faulkner, Josephine Baker e muitos outros nomes da música, das artes plásticas, do teatro, do cinema e da literatura.

Meia-Noite em Paris

O ótimo filme Meia-Noite em Paris (Woody Allen, 2011) registra de maneira convincente o estilo de vida da chamada Geração Perdida, com muito álcool, festas e discussões estéticas e filosóficas. Em seu livro/guia de turismo E todos foram para Paris (Casa da Palavra, 2011) o jornalista Sérgio Augusto nos conta de onde veio o nome Geração Perdida (aliás, é preciso mencionar que muitos dos antigos endereços de escritores e artistas citados aqui foram compilados por Sérgio Augusto).

Voltando. A escritora norte-americana Gertrude Stein, espécie de matriarca e hostess da geração, adotou o termo após um episódio prosaico em uma oficina mecânica de Paris. Dias após levar seu carro para consertar, o mecânico encarregado ainda não dera conta do serviço e Gertrude reclamou.

Génération perdu

O chefe da oficina, além de dar razão à cliente, ainda deu uma bronca em seu empregado: “Todos vocês que serviram na guerra são uma génération perdu!“. Gertrude gostou da definição e a usou para rotular seus amigos escritores, apesar de nenhum deles ter, de fato, combatido na guerra de 1914-1918.

A escritora Gertrude Stein definiu a Geração Perdida de Paris (foto: Marina Kuzuyabu)

A escritora Gertrude Stein definiu a Geração Perdida de Paris (foto: Marina Kuzuyabu)

Hemingway gabava-se de ter “lutado” na Primeira Guerra Mundial, mas na verdade ele nunca foi um soldado, mas sim um corajoso motorista de ambulâncias da Cruz Vermelha. Ele foi ferido por um morteiro quando atravessava um campo de batalha. Mesmo debilitado, ele ajudou a carregar e a salvar um soldado que estava também machucado, mas em piores condições.

O detalhe mais nobre e importante é que o soldado era italiano, ou seja, inimigo dos compatriotas de Hemingway. Então, o jovem motorista norte-americano (ele tinha 18 anos à época) que um dia iria se tornar escritor famoso cumpria à risca sua missão de voluntário da Cruz Vermelha, ajudar os feridos sem se importar com a bandeira que eles defendem.

Depois dessa introdução, vamos ao roteiro. Nesse sentido, se você é um bom andarilho, dá para percorrê-lo em apenas um dia. Porém, para melhor apreciar e curtir os locais por onde você vai andar, aconselho a dividir o roteiro Paris Geração Perdida em dois ou três dias.

Roteiro a pé pela Paris de escritores e do cinema

O roteiro a pé que fizemos por Paris, depois da parte 1 da caminhada, começa na casa em que o grande escritor Hemingway morou com a mulher e termina em uma anti-dica: um lugar que não valeu a pena na capital francesa. Aliás, dá para fazer as três partes do roteiro a pé em um dia, mas é melhor dividir para curtir melhor o passeio no roteiro da Geração Perdida em Paris.

Uma caminhada marcada pelo cinema e literatura

Da Place Contrescarpe, siga alguns poucos metros pela rua Cardinal Lemoine (ver ponto A no mapa abaixo).

A Igreja Saint Étienne du Mont e os turistas na escadaria

Uma das casas de Hemingway em Paris

Uma das casas de Hemingway em Paris

Ernest Hemingway morou com sua mulher Hadley no terceiro andar do número 74 da rua Cardinal, ao lado esquerdo de quem vem da Contrescarpe. Esse foi o endereço mais famoso dos vários que Hemingway teve em Paris (ponto B no mapa de Paris) e hoje há uma singela placa no local.

Um pouco mais abaixo do número 74 e alguns anos antes de Ernest mudar-se para lá, no número 71 da mesma rua, o irlandês James Joyce finalizava o totêmico livro Ulysses, obra literária seminal do século XX.

Se você, assim como eu, ficar emocionado de estar tão perto de locais onde dois de seus ídolos viveram, volte para a Contresacarpe e tome mais uma no Café des Amateurs, local frequentado pelos escritores – ambos bons de copos.

Mapa com roteiro a pé por Paris


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Após a birita, saia da Contrescarpe pela rua Blainville (ponto C no mapa de Paris) e siga em direção à rua de l’Estrapade. Depois de alguns metros, vire à direita na rua Clotilde. Siga em frente até a Igreja Saint Étienne du Mont. A igreja não tem nada de mais, é apenas mais um belo templo católico dos muitos que a Europa tem. Porém, por ter sido cenário chave no filme Meia-Noite em Paris, a igreja ganhou notoriedade e hoje vive dias de celebridade.

Em suas escadas, o aspirante a escritor e protagonista Gil (Owen Wilson) é transportado no tempo noite após noite para encontrar seus ídolos Ernest Hemingway e Francis Scott Fitzgerald. Olhando a igreja de frente, a escadaria do filme é a da lateral esquerda, na Place de l’Arbé Basset.

Após a famigerada foto na escadaria (prepare-se, você não será o único turista no local), siga em direção à frente do Panthéon.

Roteiro a pé pela Cidade-Luz

Na calçada da rua Clovis, não estranhe se você se deparar com uma fila imensa de jovens. São estudantes esperando para entrar em uma das mais bonitas e completas bibliotecas de Paris (e, consequentemente, da Europa) e que também serviu de cenário no filme Hugo Cabret (Martin Scorsese, 2011).

O acesso à Bibliothèque Sainte-Geneviève, especializada em ciências sociais, da Sorbonne, é gratuito e liberado ao público em geral, mas você vai ter que apresentar algum documento de identidade.

E para quem quiser pagar para entrar no Panthéon, aviso que não vale a pena. Entrei pois não pago (tenho credencial de jornalista internacional e posso entrar gratuitamente em todos museus e locais turísticos), mas tivesse eu gastado para ver aquilo, certamente me arrependeria.

É uma tumba gigante, com umas pinturas bregas louvando a história da França e mausoléus de grandes franceses como Voltaire, Rousseau (que nasceu em Genebra, na Suíça), Victor Hugo, Alexandre Dumas e outros. É um local fúnebre, gelado, sem graça e sem o menor charme. Esqueça. Entre ver um túmulo e viver a vida das ruas de Paris, fique com a segunda opção.

Jardin du Luxembourg

Em frente ao monstro arquitetônico chamado Panthéon, desça a rua Soufflot em direção ao Jardin du Luxembourg. Você irá cruzar duas vias grandes, a rua Saint Jacques e a Boulevard Saint Michel, uma das principais artérias do trânsito da Rive Gauche.

Apesar de ser possível completar a caminhada pela capital francesa em um dia, o melhor é dividir em dois ou três dias para aproveitar os cantinhos escondidos e as surpresas pelas ruas de Paris.

A seguir, conheça o fantástico Jardin du Luxembourg, a cada de escritores e artistas. Em seguida, descubra o restaurante mais antigo de Paris, uma loja da Taschen com livros a preço de banane e algumas das ruas mais charmosas de Paris

O Musée du Luxembourg

Aqui na terceira parte, o intuito é conhecer o fantástico Jardin du Luxembourg e seus arredores (as entradas estão com balões azuis no mapa de Paris). Um conselho, visite-o durante a semana, de preferência pela manhã, pois nos finais de semana ele fica insuportavelmente cheio.

O parque é o maior da região metropolitana de Paris e um dos mais bonitos também. Além de vielas charmosas, gramados impecáveis, muitas árvores e áreas sombreadas, o local – como o nome indica – abriga belos jardins, fontes, um museu e o Senado francês.

Aliás, o Musée du Luxembourg é o mais antigo de Paris e foi aberto ao público em 1750. Porém, ele perdeu muito de seu brilho e suas principais obras foram transferidas para o Louvre. Hoje o museu vive de exposições temporárias.

Mapa com roteiro a pé por Paris

Uma vez no Jardin du Luxembourg é importante saber que lá é um dos poucos locais públicos onde a grama é interditada.


View Paris além do Óbvio – Jardin de Luxembourg in a larger map

Só há uma pequena área, no lado sul do parque, onde as pessoas podem se deitar para ler, namorar ou fazer piqueniques na grama. Mas, se é proibido pisar na grama, sente-se em uma das indefectíveis cadeiras verdes do local, que mantêm o mesmo design e cor desde 1918 (os franceses adoram tradições).

Ao lado norte do Jardin, se quiser ver onde Hemingway morou com sua segunda esposa, Pauline Pfeiffer, dê uma passadinha no número 6 da rua Férou (ponto vermelho no mapa de Paris). Um pouco antes, no número 2 da mesma rua, residia o artista plástico Man Ray.

Na rua paralela à Férou (ponto verde no mapa de Paris), na estreita e bela Servandoni, William Faulkner habitou no prédio de número 26, que hoje abriga o Hotel Luxembourg Parc. Seguindo à oeste pela rua Vaugirard, dê uma paradinha no prédio do número 58 (ponto amarelo no mapa de Paris).

É aqui que habitava um dos casais literários mais interessantes de quem se tem notícias, Zelda e Francis S. Fitzgerald. E, numa rua quase paralela à Vaugirard, na rua Fleurus, Gertrude Stein morava com sua companheira Alice B. Toklas. Era ali, no número 27 que a patota da Geração Perdida mais se reunia (marcado com a taça no mapa de Paris).

Com muitos quadros de pintores da época e de uma geração anterior (Picasso, Dalí, Gauguin, Matisse, Renoir, Cézanne) e muitos livros, o apartamento era uma mistura de museu contemporâneo, biblioteca e ponto de encontro.

De Sarte a chatos

Cafés que foram legais e o restaurante mais antigo de Paris Continuando pela Fleurus (ou pela Vaugirard, tanto faz), vá em direção à Boulevard Raspail, no sentido do metrô Sèvres – Babylone (linhas 10 e 12).

Aconselho fazer esse trajeto pela rua d’Assas, que é, perdão pelo trocadilho inevitável, assaz aprazível. Depois de chegar ao metrô, que fica no cruzamento da Raspail com a Sèvres, siga por esta em direção à rua de Rennes. Em seguida, vá em frente seguindo a torre da igreja Saint Germain de Prés, que fica na Boulevard Saint Germain.

Do outro lado da praça da igreja, há o café Les Deux Magots (6 Place Saint Germain des Prés), local que um dia já foi bem barato e frequentado pela turma da Geração Perdida e, algumas décadas depois, seria frequentado pelo filósofo Jean-Paul Sartre, sua mulher Simone de Beauvoir e seus discípulos existencialistas.

Hoje o café é frequentado por turistas e moradores endinheirados com suéteres ridículos em seus pescoços e óculos caríssimos em suas cabeças ornadas com gel ou laquê. Eles se sentam em suas mesas na calçada e se contentam em ficar olhando para a rua com um olhar blasé. Uma lástima.

Cafe de Flore, Paris

Um pouco mais adiante, mas bem pertinho do Les Deux Magots, no número 172 da Boulevard Saint Germain há o Café de Flore. A história dele é parecida: um-dia-já-foi-frequentado-por-gente-legal-e-hoje-é-cheio-de-turistas-e–endinheirados. Ao seu lado, no número 151 da mesma Boulevard, funciona a Brasserie Lipp, outro lugar que Sartre e… deixe para lá.

O Cafe de Flore já foi melhor frequentado...

O Cafe de Flore já foi melhor frequentado…

Depois de ao menos ver os bares que os caras frequentavam, você vai entrar numa das áreas mais bonitas da cidade, no burburinho do bairro Saint Germain. Sinta-se absolutamente livre para se perder nas simpáticas ruazinhas do local, cheias de botecos, cafés, restaurantes, pequenos ateliês, boutiques e livrarias.

Aliás, não percam a oportunidade de visitar a curiosa e minúscula Place Furstemberg, onde, em um dos prédios que a cercam, morava Henry Miller. Ande também pela rua Bonaparte, que na esquina com a Jacob, tem o cafétem o café Le Pré aux Clercs  (30 rue Bonaparte), onde Hemingway costumava almoçar e passar o resto da tarde fumando, bebendo e, eventualmente, escrevendo.

Dizem que foi em uma das suas mesas que ele escreveu o romance “O Sol também se levanta”, publicado em 1927, um sucesso imediato que ajudou muito na construção da imagem da Geração Perdida.

Les Pré Aux Clercs, Paris

A rua de Buci é uma das mais bonitas da área e passagem obrigatória para quem visita a região. No número 2 da rua de Buci, quase na esquina com a Mazarine, tem uma excelente loja da hypada editora alemã Taschen, especializada em belíssimos livros de arte (cinema, fotografia, design, arquitetura e pintura).

Hemingway almoçava, fumava, bebia e até escrevia no Les Pré Aux Clercs

Hemingway almoçava, fumava, bebia e até escrevia no Les Pré Aux Clercs

O mais legal dessa loja é que sempre eles deixam nas calçadas edições novas à preço de banana. Sério, compramos um livro-fotográfico sobre a filmografia de François Truffaut por € 10 (na verdade, € 9,90). No Brasil, o mesmo livro sai por R$ 100 (na verdade, R$ 99…).

Depois de sair da Taschen com sacolas pesadas, quebre à esquerda na Mazarine e siga até a passagem Dauphine. O local é um túnel do tempo. Um passagem de pedestres que liga a rua Dauphine à rua Mazarine, repleto de restaurantes (com plats du jours a preços acima de € 15).

Assim, uma outra passagem sensacional (que também é um túnel do tempo) é a Cour de Rohan, que pode ser acessada pela rua Mazarine. Atenção, a rua Mazarine após cruzar a rua de Buci, muda seu nome para rua de l’Ancienne Comédie.

O Le Procope, no 13 da rua de l’Ancienne Comédie, é simplesmente o restaurante mais velho de Paris, fundado em 1686. Em suas mesas já se sentaram La Fontaine, Voltaire, Rousseau, Balzac, Victor Hugo e Paul Verlaine. Anos antes, na época da Revolução Francesa (1789-1799), os líderes revolucionários Robespierre, Danton e Marat se reuniam no local.

CROUS Mazet

Entre as ruas Dauphine e Saint Andre des Arts fica a escondida e minúscula rua André. Nessa rua, fica o CROUS Mazet, um dos restaurantes universitários da região, onde é possível almoçar por € 3,10. Se Hemingway vivesse nos dias de hoje, certamente ele iria frequentar esse local ao invés do atualmente afrescalhado Le Pré aux Clercs.

E, já que a sensacional rua Saint Andre des Arts foi mencionada, ela é o trajeto final da quarta parte do roteiro da caminhada pela Paris da Geração Perdida. Siga por ela em direção à Place Saint Michel.

O papel de parede de Oscar Wilde

Na última parte do roteiro de passeio a pé por Paris, em que conhecemos lugares escondidos e diferentes da capital francesa, sugerimos uma caminhada desde a casa onde o escritor irlandês Oscar Wilde morreu até uma ótima livraria com preços bons.

Paris oferece inúmeros passeios culturais | – foto Marina Kuzuyaba

Já que o roteiro Geração Perdida da série Paris além do Óbvio falou tanto de literatura, cinema e cultura, uma livraria como a  Shakespeare & Co. é o destino ideal para terminar o passeio a pé pela Cidade-Luz.

Na rua Saint Andre des Arts, atente para o número 13 (ponto B no mapa de Paris), local do hotel onde, em 1900, faleceu o escritor irlandês Oscar Wilde.  Pouco antes de morrer, ainda lúcido e com seu característico humor afiado, Wilde contemplou a parede do hotel e disse:

My wallpaper and I are fighting a duel to the death. One or the other of us has to go.”.

Não sei se outro hóspede frequente do hotel, o escritor argentino Jorge Luís Borges, chegou a ver o tal papel de parede. O escritor brasileiro Rubem Braga, porém, em uma de suas viagens à Paris (em 1950), sem saber, se hospedou no mesmo quarto em que morreu Oscar Wilde. Aliás, numa crônica deliciosa ele comprova, o papel de parede era mesmo horroroso  – ainda que seja pouco provável que fosse o mesmo papel contemplado por Wilde.

Mapa com roteiro a pé por Paris


No número 28 da Saint Andre des Arts (ponto A no mapa de Paris) ficava a antiga residência de Jack Kerouac, o escritor mais emblemático do movimento Beatnik, a geração posterior à Geração Perdida. Já o número 46 da mesma rua foi habitado pelo poeta norte-americano E. E. Cummings.

Seguindo pela rua, você vai desembocar na Place que leva o mesmo nome, Saint Andre des Arts. Um pouco mais à frente, pare um pouquinho na Place Saint Michel, que abriga uma fonte homônima. A Fontaine Saint Michel não é lá uma Fontana di Trevi, mas também tem seu charme.

Depois de tirar algumas fotos da fonte, atravesse a Boulevard Saint Michel e siga em direção à rua de la Huchette (ponto C no mapa de Paris), paralela à Quai de Montebello. Essa é uma das ruas dos bares noturnos e baladas de Paris.

Confesso que não me animei em entrar em nenhuma delas, pois não faziam meu estilo. No entanto, o calçadão (a via é só pedestres) estava repleto de franceses e turistas aguardando nas filas. Um dos lugares mais tradicionais da ruazinha é o clube de jazz Le Caveau de la Huchette.

Shakespeare & Co, Paris

Atravesse a rua du Petit Point e siga pela pequena rua de la Bucherie. A livraria Shakespeare & Co. (37 rue de la Bucherie ; ponto D no mapa de Paris) é o ponto final do roteiro.

Após visitar antigas moradias de escritores e diversos locais por onde eles passaram, penso que, assim como eu, você também ficou com fome de leitura. Aproveite, pois a livraria pratica preços mais justos que a Fnac e é especializada em livros em inglês – ideais para a Geração Perdida e turistas.

PS: A Shakespeare & Co. original foi aberta pela editora norte-americana Sylvia Beach em 1919, no número 8 da rua Dupuytren, também no bairro Saint Germain. A livraria e a livreira caíram nas graças dos escritores de língua inglesa que à época moravam em Paris.

Depois de ter seu romance Ulysses recusado por diversas editoras britânicas e norte-americanas, James Joyce publicou-o com a ajuda e o aval de Sylvia Beach, lançando-o em 1921 da livraria Shakespeare & Co. (que já estava em seu segundo endereço, 12 da rua de l’Odéon).

Durante a ocupação nazista da cidade, entre 1940 e 1944, a livraria foi fechada e seu precioso acervo foi escondido da sana irracional de Hitler. Em 1951, a livraria reabriu no atual endereço, mas com o nome de Le Mistral. Por fim, o antigo nome Shakespeare & Co. só viria a ocupar lugar na fachada em 1964, após Sylvia Beach, já velhinha, ceder o nome e parte do acervo para os atuais proprietários.

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