Como contratar um advogado no Brasil para homologar um sentença estrangeira

Como contratar um advogado no Brasil para homologar um sentença estrangeira

O mundo globalizado e a necessidade de homologação

Em um cenário de mobilidade internacional cada vez maior, brasileiros vivem, estudam e trabalham fora do país com frequência. Casamentos, divórcios, contratos empresariais e litígios patrimoniais se resolvem em tribunais estrangeiros. No entanto, uma dúvida recorrente surge: essas decisões judiciais têm validade automática no Brasil?

A resposta é não. Para que uma sentença estrangeira produza efeitos jurídicos no território nacional, ela precisa passar por um procedimento chamado homologação de sentença estrangeira, que confere validade e eficácia à decisão perante a lei brasileira. Esse processo é indispensável para garantir segurança jurídica e evitar conflitos de normas.


O que é a homologação de sentença estrangeira

A homologação é o ato pelo qual o Superior Tribunal de Justiça (STJ) reconhece a validade de uma decisão judicial emitida em outro país. Apenas após esse reconhecimento é que a sentença poderá ser executada ou utilizada oficialmente no Brasil.

Sem a homologação, uma decisão estrangeira pode até ter valor moral ou probatório, mas não terá eficácia prática em processos judiciais ou perante órgãos públicos brasileiros. Isso vale tanto para questões de família — como divórcios e guarda de filhos — quanto para matérias cíveis, comerciais e sucessórias.


Quando a homologação é necessária

A homologação é exigida em diversas situações, como:

  • Divórcios realizados no exterior – para que o estado civil seja alterado oficialmente no Brasil;
  • Adoções internacionais – garantindo que a filiação seja reconhecida em território nacional;
  • Cobrança de dívidas – quando um credor deseja executar no Brasil uma decisão proferida por tribunal estrangeiro;
  • Partilhas e sucessões – envolvendo bens de brasileiros ou estrangeiros que residam em mais de um país;
  • Decisões arbitrais internacionais – que também precisam passar pelo crivo do STJ para terem efeito no Brasil.

Em todos esses casos, a homologação evita que a sentença estrangeira seja ignorada ou contestada perante autoridades brasileiras.


Competência do STJ

Desde a Emenda Constitucional nº 45/2004, a competência para homologar sentenças estrangeiras é exclusiva do Superior Tribunal de Justiça. Antes, esse papel era desempenhado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), mas a mudança buscou racionalizar a divisão de atribuições entre os tribunais superiores.

No STJ, o processo é analisado pela Presidência, com possibilidade de recurso ao Plenário. O tribunal verifica apenas aspectos formais e processuais, sem reavaliar o mérito da decisão estrangeira.


Requisitos legais para a homologação

Para que uma sentença estrangeira seja reconhecida no Brasil, é necessário atender a determinados requisitos legais:

  1. Competência da autoridade estrangeira – o tribunal que proferiu a decisão deve ter jurisdição legítima segundo o direito do país de origem.
  2. Trânsito em julgado – a decisão deve ser definitiva, sem possibilidade de novos recursos.
  3. Tradução juramentada – todos os documentos em idioma estrangeiro precisam ser traduzidos por tradutor público juramentado no Brasil.
  4. Apostilamento ou legalização consular – conforme a Convenção da Haia ou, se o país não for signatário, por intermédio de consulado brasileiro.
  5. Respeito à ordem pública e à soberania nacional – a decisão não pode contrariar princípios fundamentais do direito brasileiro.
  6. Citação válida da parte ré – é necessário comprovar que a parte contrária foi regularmente notificada no processo estrangeiro.

Esses critérios são rigorosamente analisados pelo STJ antes de conceder ou negar a homologação.


Passo a passo do procedimento

O processo de homologação envolve diferentes etapas:

  1. Contratação de advogado – a atuação de um advogado inscrito na OAB é obrigatória.
  2. Reunião da documentação – cópia da sentença estrangeira, certidão de trânsito em julgado, procurações, traduções juramentadas e apostilamentos.
  3. Ajuizamento do pedido no STJ – feito por meio de petição inicial.
  4. Análise preliminar – verificação dos documentos apresentados.
  5. Intimação da parte contrária – caso haja oposição, abre-se prazo para contestação.
  6. Parecer do Ministério Público Federal – que atua como fiscal da lei.
  7. Decisão do Presidente do STJ – concedendo ou não a homologação.
  8. Recurso ao Plenário – se houver contestação da decisão inicial.

Somente após o deferimento é que a sentença estrangeira pode ser executada ou registrada no Brasil, seja em cartório de registro civil, seja em processo de execução judicial.


Desafios e obstáculos comuns

Apesar de ser um procedimento consolidado, a homologação pode enfrentar entraves:

  • Documentação incompleta ou mal traduzida;
  • Ausência de apostilamento ou legalização adequada;
  • Contestação da parte contrária, alegando nulidade ou irregularidades;
  • Decisões que afrontam princípios constitucionais brasileiros, como igualdade de gênero ou devido processo legal;
  • Custos elevados com traduções e diligências.

Essas dificuldades tornam a assistência especializada fundamental para evitar retrabalhos ou indeferimentos.


Jurisprudência e entendimentos recentes

O STJ tem consolidado jurisprudência relevante sobre homologação de sentenças estrangeiras. Entre os exemplos:

  • Homologação de divórcio consensual realizado por cartório estrangeiro – o tribunal reconheceu a validade, desde que respeitados os requisitos formais.
  • Execução de sentença arbitral internacional – confirmando que o Brasil respeita compromissos assumidos em tratados internacionais.
  • Restrições em casos de violação de ordem pública – decisões que contrariem direitos humanos ou a Constituição Federal não são homologadas.

Esses precedentes reforçam o caráter técnico e criterioso da análise feita pelo STJ.


A importância de um advogado especialista

Lidar com homologações exige domínio de direito internacional privado, normas processuais e jurisprudência atualizada. Um advogado especialista garante que a documentação esteja em conformidade, que os prazos sejam respeitados e que eventuais impugnações sejam corretamente enfrentadas.

Para aprofundar nesse tema, há materiais de referência, como a página Homologação de Sentença Estrangeira no Brasil, que detalha os requisitos e a atuação jurídica necessária.


Impacto prático da homologação

O reconhecimento de sentenças estrangeiras tem impactos concretos na vida das pessoas e das empresas:

  • Permite registrar oficialmente divórcios, casamentos e adoções;
  • Garante a execução de dívidas internacionais em território brasileiro;
  • Dá validade a partilhas de bens e heranças;
  • Confere segurança jurídica em contratos empresariais internacionais;
  • Evita litígios paralelos e decisões contraditórias.

Em resumo, a homologação é um mecanismo que conecta diferentes sistemas jurídicos, assegurando coerência e eficácia nas relações internacionais.


O procedimento, embora técnico, tem impacto direto em situações familiares e patrimoniais relevantes. Conhecer como funciona o processo e contar com assessoria adequada faz toda a diferença para que decisões proferidas fora do Brasil sejam plenamente reconhecidas em território nacional.