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Cinco águas que marcaram minha vida

Sei que água e comida de fontes duvidosas podem se tornar um imenso, dolorido e mole problema em viagens, mas até há pouco eu seguia a regra: se alguém come ou bebe, eu como ou bebo (agora estou um pouco mais cuidadoso).

Sempre achei divertido e instigante experimentar as comidas mais estranhas (da bola do boi à frutinha azeda) e beber as diferentes águas que temos por aí.

Para fugir um pouco das listinhas deja vu de blogs de viagens —10 melhores praias que vi, 10 coisas que aprendi viajando–, elenquei as 5 águas mais marcantes da minha vida. O melhor de tudo: só marcaram a memória, nunca a roupa.

Sem brincadeira: não faço mais isso. Ou ferva a água por 10 minutos, ou use pastilhas purificadoras. De diarréia a hepatite, água contaminada pode dar merda. Vamos lá!

Chapada Diamantina

Fizemos a trilha para a Cachoeira da Fumaça a partir de Lençóis. É um trajeto difícil de dois dias, com o sol do sertão baiano queimando a lata. A garrafinha durou as primeiras horas.

Depois disso, ela era constantemente abastecida pelas águas cor de mate das corredeiras dos rios que cortam a Chapada Diamantina. A dica do guia era sempre encher com água corrente: as pedras e a corredeira filtravam as impurezas, dizia ele. Pelo sim, pelo não, fizemos isso. Funcionou.

Tinha gosto.

Águas do Rio Negro

Fomos dar uma voltinha no Rio Negro a partir da Marina do Davi, em Manaus. Na voadeira-táxi, conhecemos uma mulher muito legal que morava em uma casa flutuante dentro do rio e nos convidou para almoçar.

Ela garantiu que dava para beber tranquilo o Negro. Experimentei um copo direto do rio, mas o certo era beber a água depois de passar pelo filtro de barro, coisa que também fiz. Tudo deu certo, mas, talvez pela minha rebeldia, fui atacado pelo cachorro dela e não tinha para onde correr (beber água, vá lá, mas nadar? Jamais. A mulher jurou que morava uma sucuri embaixo da casa dela).

Tinha gosto.

Raiz da árvore da Floresta Nacional dos Tapajós

Foi uma caminhada na sombra da selva, mas durou cinco horas e o calor amazônico não tem dó nem piedade: claro que a água acabou. Mas nem que não tivesse acabado, não perderia a chance: o guia da comunidade do Maguary que nos levou pela mata disse que tinha uma raiz que os índios cortavam e tiravam água fresquinha. Enchi o saco até achar uma.

Sei lá como, ele consegue reconhecer a dita-cuja no chão, encontrou e deu para a gente beber. Eu e minha parceira conseguimos apenas umas gotinhas, mas era água fresquinha e foi muito gratificante.

Não tinha gosto.

Fonte de água mineral em Itaparica

A ilha baiana de Itaparica é a única estância hidromineral à beira-mar das Américas. A Fonte da Bica, além do valor histórico –foi inaugurada em 1942–, tem valor medicinal: a água, dizem (a Wikipédia), é carbonatada e sulfatada com boa dose de ácido carbônico, teor de radioatividade na fonte a 20 graus centígrados de 0.82 maches.

Blá blá blá.

O que o conhecimento popular prega é bem mais interessante: da Fonte da Bica jorra água que rejuvenesce, cura calvície e faz bem para o fígado. Como relembrei em Salvador, na Bahia, que eu precisava de protetor solar no couro cabeludo e não abria mão da aguardente, a Fonte da Bica foi feita para mim e para meu fígado. Bebi delícia e lavei a cabeça.

O mais legal é são os azulejos que registram: “Êh ! água fina. Faz velha virá menina”.

Tinha gosto? Não lembro, tinha bebido.

Água da República

Morei por um ano em um prédio no centro de São Paulo, na República. Como não tive tempo, não cheguei a comprar um filtro. E água mineral é caro para dedéu, ainda mais tendo que servir para as visitas (brincadeira, Plínio). Sorte que logo que mudei, o prédio soltou um comunicado: caixa d’água limpinha, potável.

Tudo bem que não precisava disso: era tanto cloro que a água que brotava da minha torneira tinha uma saudável tonalidade branca bochecho de pasta de dente. Óbvio que nem o mais bravo dos bichos escrotos sobreviveria ali, então o líquido me serviu muito bem.

Tinha gosto.

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