A pequena Vilcabamba e o misticismo do Vale Sagrado, ao sul do Equador, foi um dos destinos para descansar durante o mochilão pela América do Sul.
Antes de mais nada, vale dizer que escolhi a cidade de Vilcabamba, no sul do Equador, para descansar. Foi assim que coloquei o pequeno povoado no sul do Equador no meu roteiro de mochilão pela América do Sul.
Nesse sentido, Vilcabamba seria a cidade que dividiria minha viagem pelo Equador e meu roteiro de mochilão pelo Peru.
Vilcabamba – Equador
Famosa no mundo inteiro por (supostamente) ter, relativamente, a maior população centenária do mundo, Vilcabamba é um vale de descanso encravado nos Andes equatoriano.

O Vale Sagrado em Vilcabamba, no sul do Equador: tranquilidade, misticismo e natureza
E a tradição de ser um lugar para relaxar na América do Sul é, realmente, histórica. Vilcabamba, o Vale Sagrado, era uma região de descanso para a nobreza inca. Hoje atrai mochileiros, aposentados e famílias do Equador e do mundo em seus hotéis baratos em meio ao campo.
Não é difícil imaginar o motivo: o vale, cercado por montanhas e rios, tem um excelente clima (por lá, dizem que é o clima perfeito para o ser humano viver), paisagens estonteantes e é um ótimo lugar para fazer trilhas, observar pássaros, borboletas etc. Tudo com muita calma, devagarzinho.
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Um lugar para relaxar na América do Sul
Sendo assim, cheguei em Vilcabamba para passar uns dois dias e fiquei uma semana no Vale Sagrado –como também é chamado o lugar. Além das paisagens e da natureza, Vilcabamba, por trás da imagem de tranquilidade, tem uma efervescente cultura.

Há muitas trilhas interessantes perto do povoado de cerca de 2 mil habitantes
O lugar reúne aposentados atrás de tranquilidade, mas também hippies, esotéricos e mochileiros por causa da sua aura mágica, como o Vale do Capão, na Chapada Diamantina brasileira, ou São Tomé das Letras, em Minas Gerais.
Desse modo, entre as trilhas ao lado de rios e passeios à noite, fui descobrindo um pouco dessa cultura mágica de Vilcabamba.
Rituais xamânicos e cultura esotérica
O nome da cidade vem de vilca, uma árvore sagrada (para ser claro, uma árvore com propriedades alucinógenas) e bamba, ou vale em quéchua, o idioma inca.

Vale a pena conhecer as pessoas em Vilcabamba, um lugar mágico como a Chapada Diamantina no Brasil
Além das vilcas (no Brasil, conhecidas como angico), existem muitos cactus de San Pedro (com o qual se faz uma bebida alucinógena muito tradicional nos Andes) e uma grande oferta de ayahuasca, a bebida que, da Amazônia, se espalhou pelos Andes e pelo mundo.
Ou seja, a qualidade de vida do Vale Sagrado, apontado por muitos o melhor lugar para o ser humano viver do mundo, é apimentada pela oferta de rituais xamânicos e cultura esotérica. No mínimo, um caldeirão divertido.

Em torno da pracinha da igreja há restaurantes, lojinhas e mercadinhos em Vilcabamba.
Mas também quero lembrar uma coisa chata: aparentemente não é verdade que Vilcabamba é o Vale da Longevidade, onde muitas pessoas passam dos cem anos. A história remonta a década de 50, quando um reportagem da National Geographic surpreendeu-se com o número de centenários no pequeno paraíso equatoriano e registrou em uma reportagem de sucesso.
Mas… as pessoas mentem. Os velhinhos de Vilcabamba acrescentaram algumas décadas às suas vidas ao conversar com os jornalistas e a fama pegou. Por causa da lenda, o local chamou a atenção e hoje é sede de um importante centro de pesquisa gerontológica no Equador.
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Vilcabamba e o Vale Sagrado
Boas histórias não faltam no Vale Sagrado.
Na minha semana em Vilcabamba, aprendi que ali reúnem-se os ilumitati — seja lá o que for essa sociedade secreta, que os disco-voadores gostam de voar pelos céus locais e que ali é um bom lugar para as bruxas reporem a energia.
Também há muito o que fazer em Vilcabamba sem mergulhar no misticismo (ou em bebidas de poder).

Parque Nacional Podocarpus, em Vilcabamba – Equador.
Quase todos os dias (e às vezes à noite, sob a luz da lua), caminhei por trilhas que levavam a paisagens cheias de cores, montanhas, rios.
Tanto a vista do pequeno povoado de longe quanto a variada coleção de flores que cercam as casinhas impressionam. É uma região úmida, próxima a Amazônia, que faz calor de dia e frio à noite, em uma empolgante mistura de ecossistemas.
Parque Nacional Podocarpus
Uma das atrações perto de Vilcabamba é o Parque Nacional Podocarpus, um dos lugares com maior biodiversidade no planeta, de árvores a borboletas, passando por pássaros, ursos e raposas. Apesar de ter alguns tours pagos, minha semana em Vilcabamba foi uma das mais econômicas do meu mochilão pela América do Sul.
Com tantas ofertas, aproveitei para fazer passeios e caminhadas grátis, a comida é muito barata (come-se bem por US$ 2,50) e fiquei em um ótimo hostel em Vilcabamba por US$ 8 em um quarto privado.
No entanto, com o tempo, descobri algumas opções de hotéis em Vilcabamba, já no meio da mata, ainda mais interessantes, com piscina, jacuzzi e outras mordomias, por preços que giram em torno de US$ 8. Porém, estava bem instalado e resolvi não mudar desse hostel barato em Vilcabamba. Afinal, em um mochilão pela América do Sul, é um prazer inenarrável encontrar uma hospedagem boa, barata e em quarto privado).
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Como chegar em Vilcabamba
A cidade grande mais próxima de Vilcabamba é Loja, a apenas uma hora de viagem de ônibus (US$ 2). Os ônibus entre as duas cidades circulam durante todo o dia, por isso não é preciso comprar a passagem rodoviária com antecedência.

Trilhas, trilhas e trilhas em Vilcabamba –além de relaxar, dá para andar por belas paisagens e tirar muitas fotos
Sem dúvida, se você está em um mochilão pela América do Sul descendo do Equador para o Peru, Vilcabamba é uma ótima opção para colocar no roteiro de viagem.
Assim, a cidade de Loja conta com linha de ônibus direto para Piura, no norte do Peru, em dois horários –a meia-noite e às seis da manhã. Ou seja, Vilcabamba é ótima para uma paradinha antes de entrar no Peru, onde as viagens são mais longas e cansativas.
Eu estava evitando pegar ônibus noturno durante meu mochilão, mas encarei a viagem de 12 horas de Loja até Piura, no Peru, a partir da meia-noite.
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Cruzando a fronteira entre o Equador e o Peru
Em conclusão, foi bom para ganhar tempo, mas foi estresssante cruzar a fronteira entre o Equador e o Peru de madrugada. O motorista não parou no lado equatoriano, e quando passei pela burocracia peruana, o clima não era dos mais agradáveis. Assim, me fizeram voltar a pé, de noite, para o Equador para bater alguns carimbos de saída do país vizinho.
A caminhada entre o posto de fronteira dos dois países era curta — uns 500 metros, mas tinha que passar apenas com a luz da lua, sob uma ponte estreita.
Para piorar, e para a alegria dos barraqueiros e dos militares peruanos na fronteira, uma matilha de cachorros encasquetou comigo, latindo, prontos para morder. O pessoal em volta, entre risadas, só chamou os perros de volta quando, sem opção, comecei a dar mochilada nos bichos.
No escritório da fronteira peruana, o burocrata se recusou até a emprestar a caneta para eu preencher a papelada.
Tudo deu certo. Mas sozinho, de madrugada, sem ter ideia de onde eu estava no mapa mundi, com um monte de militares e cachorros de mau humor ao redor, vivi, depois de 45 dias, o maior perrengue do meu mochilão pela América do Sul.
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